terça-feira, 16 de agosto de 2011

Quem Sorri!? - Ângelo Cavalcante


Que tipo de gente pode achar graça e prazer nos tais rodeios?
Pode haver espetáculo mais aberrante?

Cristo... Onde está a beleza disso?
Que tipo de mente se vê feliz em uma situação em que seres humanos(?) se lançam a, violenta e absurdamente, torturar seres reconhecidamente dóceis?

Rodeio é um enorme erro.
Trata-se de um invento estúpido saído de alguma mente evidentemente falida e insana e consiste em encerrar em uma espécie de arena, animais mansos, amigos e tenros, para serem submetidos a toda sorte de mal-trato por determinada espécie de homem.

Vejamos...
Um boi é um ser vivo, possui quatro patas e, chega a ser, irritantemente, manso. Em que pese o seu enorme corpo, é meigo. Ele, como eu ou você, chora, sorri, gosta de carinho, sente sono, cansaço, namora, brinca e têm parentes.
O boi é possuidor de uma mansidão tal que uma única criança de oito anos é capaz de tanger um rebanho inteiro. São, desde tempos pré-históricos, vegetarianos e são bem conhecidos por produzirem arrotos e flatulências.

Pois bem, estas criaturas são, antes de entrarem no inferno da arena, queimadas com iniciais de um alfabeto, talvez saído do inferno. São provocados à exaustão com choques e pancadas, para que possam, por fim, se tornarem "demônios raivosos", o que definitivamente, não são.
Amarrados violentamente, são jogados em gaiolas sob rodas, onde seguiram, sob sol, chuva e vento, por milhares de quilômetros.
Passam fome, sede e se cansam.
Lá chegando são, de novo, provocados para o "grande momento". Em cena, evitam quaisquer tipos de correrias ou confrontos, por isso sempre os vemos encostados nas cercas.
Ficam quietos, tristes e solitários, olham ao redor, querem apenas um pouco de paz. Mesmo "preparados" para o confronto, nada querem com o bicho-homem. Qual nada! Do outro lado, a patuléia urra insana por espetáculo.
O peão, pobre peão, um infeliz mal-pago por uma coisa humana chamada fazendeiro ou latifundiário, dá um rasante violento sobre o dorso do animal, fincando-lhe duras esporas nas virilhas.

Dor, dor, muita dor...

Como reação, é claro, o animal tenta se livrar daquele que o tortura, por isso os balanços, os pulos, os solavancos. Mas o povo quer mais! Vibra, grita, sorri e um outro miserável ao microfone grita: Seguraaaaa peão!
Como a crueldade humana não tem limites, tem-se, ainda, um relógio que conta o tempo da dor do animal. É assim: Quanto mais dor o peão conferir ao animal, mais pontinhos terá.

Não é lindo!???

Que beleza há nisso? Me digam... Que beleza pode existir em tal COISA?

O rodeio é, antes, uma negação da razão humana. É um demérito ao pensamento e as melhores criatividades do homem. É feio, mal, aviltante e desumanizador.

Curioso é o fato de rinhas de galo serem crimes e os malditos rodeios, não! Não consigo entender!?

Eu odeio rodeios e odeio mais os que o promovem. Suas caminhonetes, seus latifúndios, suas cercas e suas monoculturas feitas a partir de fundos públicos. Sua cultura plástica e descartável, seus diálogos hierarquizantes e monotemáticos. Seu ridículo requinte faz agonizar a paciência do mais santo dos homens. Definitivamente, vomito em seus deuses (o capital e a exploração).
Odeio seus "cantores sertanejos" que entoam suas miseráveis lamúrias de morte, buscando associar a fecunda e misteriosa vida do sertão advinda do campo com pseudo e fugidias sentimentalidades do tempo presente. Odeio!

De novo, odeio os que promovem estes encontros de morte.
Detesto também os que lá se fazem presentes. São feios, mal-educados, falam mal e jamais leram um único livro na vida. Destroem a vasta e poética língua de Camões, desconhecem direitos humanos e direito dos animais lhes é algo inimaginável. Possuem sotaques carregados, grosseiros e bairristas. Vestem-se mal, são espalhafatosos e cronicamente desinteressantes. São, em geral, extremamente reacionários, preconceituosos, machistas, atrasados e homofóbicos. Representam, por fim, o que existe de pior na, já atrasada, sociedade brasileira.

Finalmente e, lamentável, toda esta gente, representa como classe, a mesma simbologia ética e moral que, um dia, alimentou e deu vida para um monstro saído da mais fétida e abissal lama, e que se chama... nazismo.

Eu odeio rodeios!


Ângelo Cavalcante é professor de economia da UEG em Itumbiara, 
onde também publica o informativo 'Boletim Econômico', em que 
se dedica à construção de uma economia mais justa, solidária e inclusiva.

domingo, 7 de agosto de 2011

Rock in Roça e Game Of S.K.A.T.E.

Itumbiara é carente de cultura, não sei se sempre foi, mas há um bom tempo é. As opções são extremamente limitadas, o público underground é ignorado, por vezes se têm até a impressão de que não há esse público, mas não nesse final de semana (30 e 31/07). Nele tudo foi diferente. Esse público mostrou que existe e que além de numeroso é poderoso. Pode-se dizer que nesses dois dias esse ele não teve do que reclamar, pois Itumbiara foi chacoalhada, parecia outra cidade ou então era o presságio de uma nova cidade.
 
Tudo começou no sábado (30/07) com o Rock in Roça, organizado pelo RR Produções o evento superou expectativas, tantos dos organizadores, tanto das bandas quanto do público, pois o último evento de Rock foi o Workshow do Hangar no dia 13 de abril e o último festival foi no Halloween, logo, é de se esperar um receio de todos em relação a eventos de Rock em Itumbiara, pois não se tem notícia, nada se conhece sobre e esse foi um dos motivos que o Rock in Roça surpreendeu , pois a esquecida Itumbiara apresentou uma estrutura impecável, como se festivais do gênero fossem constante.


 
Jão e Guilherme da Rataria Studio exibiram sua arte, Jão tatuou e Guilherme fez Body Piercing. Puto e Álvaro distribuíram a 1ª edição do zine itumbiarense "Overdose Cultural".  


Marcado às 19 horas, o show mesmo só foi começar às 22 horas com Altarez, em meio a fumaça e uma poderosa iluminação a banda lendária da cidade que entre numerosas voltas e vindas nunca deixou a desejar, com o vocalista Dênis visivelmente empolgado e nostálgico, relembrando os tempos de 2005, cantou com perfeição clássicos da Donzela de Ferro juntamente com os guitarristas Nil e Gabriel e o bno baixo o novato Thiago e além de Vinicius na bateria, juntos mostraram toda a potência do Heavy Metal e que independente do tempo que ficam sem tocar juntos a qualidade não se perde nunca,  headbangers não tiveram do que reclamar.

 
Logo depois surgiu Lycanthropy, que devido ao processo de composição para o próximo disco estavam há um tempo sem tocar, não que isso fez alguma diferença, pois fizeram uma apresentação furiosa, para enlouquecer os fãs de Metal extremo. O vocalista Diogo constantemente incitava o público para  interagir mais e então a roda de mosh só ia ganhando adeptos, fizeram também uma breve homenagem as vítimas da Noruega e contaram com uma participação de Lennon. Definitivamente Silas, Laurencce, Thales e Diogo, mostraram para o que vieram, com muita presença e técnica o entrosamento da banda é inquestionável, o que faz de suas performances ao vivo formidáveis.


 
Em seguida veio Skinners, agora com Gabriel nos vocais. Era esperado que devido ao som mais leve e após a apresentação de uma banda de metal extremo os ânimos iam se acalmar, mas não foi o que aconteceu, o público estava animado e além disso havia diversas tribos reunidas. Abusando de clássicos e até de improvisos com Wallisson e Paulo Victor (técnico de som) nos vocais.Acertaram em cheio com Raimundos e Planet Hemp, mostrando a força da cena nacional; Mycael, Lobó e Gabriel deram um show de performance.



Então mais uma de Ituiutaba veio ao palco; a Dark Inside. Os fãs de New Metal estavam ansiosos pela banda, infelizmente não puderam tocar todo o repertório,mas mesmo assim tocaram o bastante para enlouquecer a galera. Jefferson, Clécio, Thales e João Paulo, mesmo tocando poucas músicas, deixaram sua marca. Na introdução de “Duallity”, aconteceu o inesperado; a polícia apareceu e, devido a reclamações de vizinhos, a apresentação da Dark Inside não pode ser concluída. A Walled Garden que, de início seria a primeira banda, mas devido a problemas internos não ia mais se apresentar, conseguiram se resolver e então haviam ficado por encerrar a noite, também não puderam se apresentar e então a festa permaneceu somente com o som ambiente e após uma hora, cerca de 03h30min da madrugada a festa encerrou. Foi um imprevisto, mesmo com o local aparentemente isolado não adiantou. Mesmo sendo um fato bem desagradável, definitivamente não foi o suficiente para diminuir a noite. A apresentação das bandas, o comparecimento em peso e a organização ficaram marcados. Foi tudo memorável e imprevisto nenhum conseguiria apagar isso.


 
Já seria um final de semana incrível, mas ainda tinha muitomais por vir. O 1° Game Of S.K.A.T.E. organizado pela Solo Skate – nova loja de skate de Itumbiara –, em parceria com o Rataria Studio, ocorreu no domingo (31/07). O evento também surpreendeu tanto pela quantidade dos participantes quanto pela qualidade destes, além da organização. Havia um o narrador bastante animado e extrovertido, e uma trilha sonora excelente além de coerente. O evento teve seu início às 14 horas, ainda sob um calor desértico tipicamente Itumbiarense, e fora até as 20h30min; sempre com a arquibancada lotada e vibrante.


Primeiramente a categoria mirim; que mostraram que mesmo sendo novos a qualidade é de gente grande. Os juízes Manoel e Kokaum avaliaram com seriedade as manobras daqueles que já não mais engatinhavam sobre rodas, daqueles garotos que talvez buscassem algo muito além da premiação. Tinham ali, finalmente, seus talentos reconhecidos e um incentivo raramente dado.
Os vencedores foram:
*1° Lugar: ------------;
2° Lugar: Castilho;
3° Lugar: -------.


Logo em seguida veio a categoria Iniciante, uma grande surpresa foi alguns garotos franzinos e pequenos, com um talento absurdo, sendo constante a exibição de grande manobras
Os vencedores foram:
*1° Lugar: ----------------;
2° Lugar: Yuri;
3° Lugar: Arthur.


Então veio a mais aguardada categoria, a dos amadores, uma emocionante e técnica disputa entre Douglas e Chorão deu inicio a categoria, animando assim o pessoal e reafirmando o alto nível dos participantes. O nível se manteve entre os outros concorrentes, que a cada erro e acerto fazia o público reagir às tamanhas dificuldades de execução das manobras. 
Os vencedores foram:
1° Lugar: Wans; (Premio: Shape)
2° Lugar: Higor “Chorão”; (Premio: Rodas)
3° Lugar: Jota. (Premio: Amortecedores)


Para finalizar a noite veio então o ‘Best Strick’, para reanimar os corpos exaustos e os espíritos sedentos por esportividade, onde os skatistas tinham 30 minutos livres pra fazer suas melhores manobras no corrimão e no cone; em que o dono da melhor manobra levaria uns prêmios cedidos pelo RR Produções. Cada um dava o seu melhor nos obstáculos, extraia de si o esforço e a dedicação pelo esporte. Já estava escurecendo e o público aumentava de amantes e curiosos. O vencedor da rodada, com grandes destaque fora Lucas. E então o campeonato chegou ao fim e fora definitivamente, um sucesso.


O êxito maior no qual os organizadores, competidores, e público podem se orgulhar é o reconhecimento do skate como esporte saudável, que deve ser incentivado tanto quanto outras formas de esporte. Itumbiara possui um bom nível de skatistas dedicados e talentosos que merecem boas condições para poder se desenvolver, até, profissionalmente.



Dois dias inesquecíveis para o público underground, dois dias que evidenciaram que com esforço, dedicação e união é possível se virar e fazer um festival, fazer um campeonato, enfim, fazer algo. Era a prova final que há um público e este está faminto por fermentar a cena local, seja rock, seja skate, seja o que for. Itumbiara tem muito mais a oferecer do que duplas sertanejas,tem artistas, tem atletas, tem escritores, tem muito, muito mais e está passando da hora de acontecer uma união destes, de modo que finais de semanas como este, ocorram com mais frequência. Ademais, só tenho algo a acrescentar que sem dúvidas, foi um final de semana histórico! 

* Nos faltam esses dados, se alguém souber, por favor, nos informe.